Fernanda Bompan
Ao longo do ano de 2012, a
grande preocupação de advogados, contadores e de empresários era como se
adaptar à nova forma de recolhimento de PIS e Cofins, o EFD-Contribuições,
dentro do Sistema Público de Escrituração Digital (Sped). Os primeiros
obrigados, que são grandes empresas integrantes do lucro real, já estão
entregando os impostos pelo novo layout da Receita Federal. E em 2013 é a vez
dos integrantes do lucro presumido, o que inclui pequenos estabelecimentos, de
se preocuparem com esse sistema.
Para especialistas
entrevistados pelo DCI, o número de retificações - erros que precisam ser
corrigidos - deve crescer neste cenário e gerar mais custos, principalmente
para essas empresas com baixo faturamento.
"Em 2013 teremos o início
da obrigatoriedade da EFD-Contribuições para empresas do presumido e do setor
financeiro. Com o ingresso das primeiras, passaremos a ter um novo batalhão de
empresas impactadas diretamente pelo Sped, muitas delas precisando de recursos
tecnológicos e pessoas preparadas para esse novo ambiente", aponta Fabio
Rodrigues de Oliveira, diretor da Systax inteligência Fiscal.
Para Vagner Jaime Rodrigues,
sócio da Trevisan Gestão & Consultoria (TG&C), um dos problemas é que
as empresas, principalmente as pequenas, não davam a devida importância para a
contabilidade societária. "Agora, o Sped vai pedir todos os detalhes dos
itens os quais o PIS e Cofins devem ser recolhidos pelo empresário", diz.
De acordo com um dos
especialistas em Sped, Roberto Dias Duarte, professor de pós-graduação da
PUC-MG e do Instituto IPOG, um exemplo de que as empresas, principalmente as
menores, terão dificuldades em se adaptar ao sistema é a falta de preparo
desses empresários. "Dados [coletados pelo especialista] mostram que após
as entradas das empresas do lucro real, o percentual de retificações do total
de informações transmitidas para o EFD-Contribuições dobrou de março para
setembro de 2012, ao passar de 3% para 6%, o que mostra o nível de
preparo", exemplifica Dias Duarte, ao acreditar que de forma semelhante
acontecerá com quem é integrante do lucro presumido, quando mais de 960 mil
empresas passam a ser obrigadas. Em março foram 144,7 mil envios, em setembro
foram 161,3 mil.
"A questão é que muitos
empresários têm contabilidade terceirizada, o que dificulta essa comunicação. É
possível imaginar que quando entraram essas empresas no EFD Contribuições, de
cada 100 informações transmitidas, seis serão retificadas", prevê o
especialista em Sped.
Também neste ano, outra nova
forma de entrega à Receita Federal, desta vez, do Imposto sobre Circulação de
Mercadorias e Serviços (ICMS) não deve dar folga para o grande empresário.
Segundo Marco Gomes, diretor técnico da MG Contécnica, o nível de detalhamento
é muito maior. "Já temos empresas que estão passando por essa adaptação e
enfrentam dificuldades. Isto, porque precisa registrar o código de barra por
unidade, o valor do tributo recolhido, informar o estoque. E imagina um pequeno
estabelecimento que tem 10 mil itens e não é informatizado, o que isso vai
gerar depois?"
Segundo ele, um custo para
essa adaptação pode chegar a R$ 12 mil. "Um meio adequado é como fizemos
com relação ao PIS e Cofins, é trabalhar de forma conjunta: setor de
contabilidade, empresas de sistema e clientes, com palestras e treinamentos a
eles, sem repassar o custo que tivemos para esse trabalho", informa.
Intensidade
O sócio da TG&C avalia que
o fato da Receita estar aumentado o grau de exigências no âmbito do Sped não é
uma novidade. As previsões são de que terá um Sped para mudar a forma
recolhimento dos impostos na folha de pagamento, e até para o Imposto de Renda
de Pessoa Jurídica (IRPJ).
"Desde que esse sistema
foi lançado, a Receita deixou claro que é um sistema abrangente. E que será uma
realidade para todos, independentemente do porte. Os empresários precisam
perceber que o Sped é uma oportunidade para melhorar sua gestão", diz.
"Esse sistema vai fazer com que a fiscalização aumente e as sonegações
diminuam, e deixe os bons pagadores mais tranquilos, porque ao invés de receber
autos por erros cometidos há cinco anos, como era no passado, vamos receber
autos num prazo mais curto", acrescenta o sócio da consultoria TG&C.
Roberto Dias Duarte comenta
que o empresário brasileiro precisa mudar a cultura, que é o mesmo que
aconselha Marco Gomes. "Nossos clientes já começaram a entender mais de
tributos e aumentou até seu nível empresarial", avalia o diretor-técnico
da MG Contécnica. "Nos últimos 10 anos, entidades, como o Sebrae, veem
alertando que o empresário não deve somente pensar em vender e comparar, tem
que gerenciar melhor isso. E com o Sped, essa nova mentalidade é
necessária", acrescenta Dias Duarte.